Estão jogando os catadores no lixo!
E a indiferença é pior que qualquer manchete sensacionalista.
Há décadas as catadoras e catadores fazem a reciclagem acontecer na prática no Brasil, mas são invisibilizados de forma intencional por um projeto da elite que segue a lógica escravocrata e colonial que formou os grandes centros urbanos no país.
Desde as pessoas escravizadas que carregavam, nas costas, tonéis cheios de resíduos das casas grandes para levar à área de descarte, até as que cruzam cidades inteiras carregando resíduos em carroças, a indiferença da sociedade para as condições que afetam o povo pobre é brutal.
Catadoras e catadores são criminalizados, tem suas carroças e itens pessoais apreendidos pelo poder público, isso quando não são agredidos ou assassinados - como foi o caso de Ricardo, catador em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Governos têm a coragem de restringir a atuação dos catadores nas ruas, pessoas que estão fazendo o impossível para conseguir gerar renda a partir do que a sociedade, o Estado e o Mercado tratam como “lixo”.
Num grande acordo entre a elite, órgãos públicos, universidades e veículos de comunicação reforçam a marginalização das catadoras e catadores, apontando pouco para fatores estruturais que afetam essas populações, como o acesso à moradia digna, saúde, educação e trabalho.
Estão naturalizadas cenas tristes como a que vimos no metrô de São Paulo, onde um catador é brutalmente agredido por seguranças privados, ou a que vimos no Rio Grande do Norte, onde um homem humilha e agride um catador empurrando-o dentro da lixeira.
A indignação, ferramenta fundamental para a luta democrática, nos é anestesiada por quem está no poder (governos e empresas) através de greenwashing, discursos bonitos, produtos coloridos e eventos chiques.
Somente através da mobilização popular é que conseguiremos garantir os direitos básicos para todos nós, catadores e não catadores. Pois sabemos que quem sofre diante da crise, seja ela econômica, política ou climática, é o povo pobre e periférico.
Precisamos nos mobilizar, localmente e globalmente, em torno de iniciativas que promovam a Justiça Climática e a Economia Circular a favor da maioria das pessoas e do meio ambiente, e não em prol de meia dúzia de “empresários verdes”.