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Pesquisa Cataki traz dados inéditos sobre catadores e catadoras autônomos

Destaques:

  • Catadores e catadoras vinculados ao Cataki coletam, individualmente, cerca de 7,5 toneladas de material reciclável por mês
  • Os trabalhadores autônomos de São Paulo e Belo Horizonte recolhem volume superior à coleta seletiva municipal 
  • Energia economizada anualmente com coleta de recicláveis feita por catadores cadastrados no Cataki abasteceria 9,6 milhões de casas por um mês
  • 31% dos catadores cadastrados no Cataki são remunerados por retirada; 83% afirmam ter mais orgulho da profissão por conta do trabalho junto ao aplicativo; e 71% têm na coleta de reciclagem sua única fonte de renda  

São Paulo, novembro de 2022 - Catadoras e catadores de materiais recicláveis são trabalhadores fundamentais para a sociedade e o planeta. Ainda assim, é escassa a informação pública organizada a respeito das condições em que vivem. Com o objetivo de fortalecer a visibilidade destes heróis do meio ambiente, o Cataki, aplicativo sem fins lucrativos, lança um relatório com dados sobre o universo dos catadores e catadoras autônomos nas cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. A pesquisa faz parte das ações de dez anos da ONG Pimp My Carroça. O arquivo completo sobre o levantamento está disponível em:  apoie.pimpmycarroca.com/pesquisacataki2022

Organizada pela consultoria Plano CDE, a enqute aponta que grande parte desses profissionais convive com situações discriminatórias, violência policial, ausência de remuneração e alto risco de acidentes. No entanto, foi possível constatar que os catadores que utilizam o aplicativo Cataki e se envolvem com as ações e projetos do Pimp My Carroça apresentam mais autoestima e sensação de reconhecimento pelo trabalho de coleta de materiais recicláveis.

Os profissionais responderam questões quantitativas e qualitativas sobre: perfil socioeconômico, relação com clientes e compradores e tipos de materiais recicláveis coletados. A consulta foi realizada com 421 catadores e catadoras autônomos em abril de 2022, dividido entre 156 usuários cadastrados no Cataki e 265 não cadastrados.

Perfil Eu Catador, Catadora

Para a catadora e o catador de resíduos recicláveis que vão para a rua sem vínculo de emprego, o cenário de trabalho é duro e muito pouco receptivo por parte da sociedade. 

Os resultados do levantamento mostraram que esses trabalhadores passam por constrangimentos dos mais diversos. “A maioria [das pessoas] olha pro catador como que a última opção que o cara tinha era essa. No olhar da sociedade, não é uma escolha, mas uma falta de opção. Não é o mesmo olhar que nós temos como profissional. É um serviço digno”, comenta um dos entrevistados. 

Metade dos entrevistados usuários do Cataki admitiu ter sido impedida de entrar em estabelecimentos comerciais para recolher resíduos, 67% foram vítimas de preconceito por ser catador e 63% apontam terem sido vigiados de perto por seguranças. 26% dos catadores que não usam o Cataki já tiveram sua carroça, principal instrumento de trabalho, apreendida pela Prefeitura. Entre os usuários do aplicativo, 21% passaram por esse constrangimento. 

O perfil sociodemográfico dos catadores revelou que 72% dos catadores usuários do aplicativo Cataki se identificam como negros e pardos, enquanto 81% dos não cadastrados consideram a mesma opção. 

Entre os entrevistados, os homens são maioria: 75% de não usuários, enquanto 62% de maioria entre usuários em São Paulo. Em Belo Horizonte, 80% dos não usuários do aplicativo são homens contra 56% de não usuários. Na capital mineira, 44% das usuárias do aplicativo são mulheres. Já no Rio de Janeiro, 66% dos usuários do aplicativo são homens, e entre não usuários o número sobe para 76%. As mulheres cadastradas no aplicativo representam 39% da amostra, contra 24% de não cadastradas. 

A faixa etária média dos catadores e catadoras é comum nas três regiões pesquisadas: 44,5% do total têm entre 40 e 59 anos e 32% começaram a coletar antes dos 30 anos de idade. Outro fator em comum são as horas trabalhadas: Em geral, são 10 horas de catação diárias. 

Cerca de 30% dos trabalhadores que participaram da pesquisa entraram na catação devido ao desemprego e outras situações de vulnerabilidade e 12% dos entrevistados ingressaram neste trabalho por influência familiar e, para 71% dos respondentes, ser catador é o único trabalho no momento. Atividades como pedreiro, vendedor(a), segurança, assistente de obra e diarista são exemplos de ocupações citadas como deixadas de lado para realização da atividade de catação, pois as pessoas acabam se profissionalizando e obtendo uma renda mensal superior e mais autonomia em relação às demais ocupações exercidas anteriormente.

O levantamento identificou que a preferência pelo trabalho autônomo, em lugar do trabalho nas cooperativas e associações, se relaciona com a possibilidade de elaborar estratégias próprias de coleta, como: quais materiais coletar, os horários de trabalho e os trajetos percorridos. Apesar da aparente liberdade, essa escolha significa que estão ainda mais afastados das escassas políticas públicas de fomento ao trabalho de catadoras e catadores, como os benefícios de previdência social, férias remuneradas e seguro desemprego.

Jornada profissionalizante 

A Pesquisa Cataki permitiu conhecer melhor a jornada de profissionalização da categoria. Entre os catadores não usuários do aplicativo Cataki, 29% usam apenas carrinhos de mercado ou de mão. Já entre os usuários do Cataki, 44% usam carroça e 24% trabalham com carro. 

Muitos catadores e catadoras iniciam a atuação com bags e sacolas de plástico, até conseguirem adquirir carrinhos de feira ou de mercado. A etapa seguinte é o uso de carroças. A transição entre uma carroça alugada e uma própria também é comum entre os catadores.

Após a conquista de uma carroça própria (há diversos relatos de aluguel de carroça que acarretam em acordos de exclusividade na venda dos materiais), o próximo passo é a aquisição de um veículo motorizado para maior alcance territorial, variedade e volume de materiais.

O impacto do trabalho de catação nas cidades 

O trabalho de catadores e catadoras autônomos não é remunerado pelo município, mas tem representação significativa na coleta seletiva.

A Pesquisa Cataki 2022 apresenta números que começam a responder o impacto positivo que a atividade dos catadores e catadoras autônomos de material reciclável tem nos municípios atualmente. O levantamento constata que os que usam  carroças coletam, em média, 340 quilos de recicláveis diariamente. Sendo assim, por mês, cada catador junta cerca de 7,5 toneladas de material.

Esse número impressiona, e motivou a realização de uma estimativa importante. Consideradas essas toneladas e multiplicadas pelo número de catadores na base do Cataki na cidade de São Paulo, os 1.767 profissionais cadastrados recolhem o equivalente a 1,6 vezes a coleta seletiva municipal oficial. A proporção é a mesma em Belo Horizonte. No Rio de Janeiro, o resultado é equivalente a 11% do que é obtido pela coleta seletiva da cidade.  

Trabalho de catadores gera economia de recursos naturais

O cálculo também foi feito nacionalmente: considerando as informações obtidas, os cerca de 4.300 trabalhadores cadastrados no Cataki em todo o Brasil chegam a recolher, em média, 330 mil toneladas de recicláveis por ano.

Utilizando a calculadora de impacto do Cataki, que mede efeito ambiental positivo a partir da coleta de resíduos recicláveis, em doze meses, esses profissionais economizam recursos naturais que abasteceriam com energia elétrica 9,6 milhões de casas por um mês ou água suficiente para encher 3.045 piscinas olímpicas ou 1.104 campos oficiais de futebol plantados. 

Ações do Cataki e Pimp My Carroça fortalecem  autoestima e reconhecimento profissional

A pesquisa autoriza concluir, quanto à percepção dos catadores e catadoras entrevistados, que o Cataki é uma parte representativa na construção de sua autoestima. O levantamento observou que os respondentes dizem se sentir reconhecidos ao participarem das ações da ONG e encorajados a divulgar seu trabalho. Em média, 83% apontaram ter mais orgulho da profissão por conta do trabalho com o Cataki. 

Um dos principais pontos positivos declarados pelos usuários do Cataki está na remuneração. Para 57% deles, houve aumento de sua renda depois de terem começado a atender por meio do aplicativo. A pesquisa mostrou que 31% dos “catadores Cataki” são remunerados por retirada. “Mudou muita coisa na minha vida. Pelo aplicativo me chamam para fazer retiradas e eu posso cobrar por elas”, afirma um dos entrevistados. Entre os dados positivos está o fato de que 65% dos entrevistados encontraram novos pontos de coleta e 44% tiveram novos compradores por conta de conexões vindas pelo aplicativo. 

Relevância da Pesquisa Cataki 2022

Ao viabilizarem a utilização de resíduos como matéria-prima para indústria, catadoras e catadores contribuem com a conservação ambiental, pois reduzem a demanda de extração de recursos naturais para fabricação de novos produtos. A pesquisa Cataki indica, porém, que o estigma social em torno da profissão de catador é uma das barreiras que precisam ser quebradas com urgência no Brasil para que seja possível aproximar essa classe dos direitos que já são atribuídos à maioria dos trabalhadores do país. 

Em sua origem, a consulta realizada em abril foi proposta para gerar mais perguntas do que respostas. Como tecnologia social, deve funcionar como uma provocação para que, no próximo ano, a investigação cubra uma amostragem maior e mais efetiva. “Executar essa pesquisa foi um sucesso para a gente, mas foi muito difícil encontrar interessados em nos apoiar financeiramente nessa tarefa. Com o relatório chegando em novos espaços e conversas fortalecemos nossa missão de trazer visibilidade para esses trabalhadores e comprovar a relevância do trabalho da organização”, pontua Leticia Tavares, diretora geral do Pimp My Carroça. 

A organização espera que, em 2024, alcance verba para estar presente em pelo menos 50% dos estados nacionais e que institutos de pesquisa, universidades e outros interessados possam ver, a partir desses números, a fertilidade deste campo de estudo.

“Esse material é uma provocação para que o poder público, as marcas e os consumidores possam se fortalecer, para além do Pimp My Carroça e do Cataki. 

Foi possível perceber através da pesquisa, mas não apenas, que ações voltadas para apoiar catadores em infraestrutura e espaços de armazenamento podem contribuir para melhoria de condições de trabalho e consequentemente aumento da renda e de volume de recicláveis”, comenta Carlos Thadeu de Oliveira, coordenador de Advocacy do Pimp My Carroça. 

A Pesquisa Cataki 2022 foi patrocinada pela Owens Illinois, Nestlé e Oak Foundation. Para saber mais, acesse: apoie.pimpmycarroca.com/pesquisacataki2022

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