“Sempre trabalhei com reciclagem. Assim construi minha vida, minha família”: Catador salvou pessoas usando bags de reciclagem em Porto Alegre/RS
O Pimp My Carroça convocou parceiros da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para registrar o perfil de catadoras e catadores atingidos pelas inundações na capital gaúcha. Com as presenças e registros de Negra Jaque, DKG e Alass Derivas, essas pessoas contaram suas histórias e compartilharam suas sensações e perspectivas deste momento histórico na luta pela justiça climática numa das principais cidades do país.
Uma dessas pessoas é Ismael Silva, catador de 41 anos, que mora na Vila dos Papeleiros, atual loteamento Santa Terezinha, desde 1998. São 26 anos trabalhando com reciclagem na região. Após muitos anos puxando carrinho, conseguiu uma kombi e abrir seu próprio depósito, onde compra materiais de catadores que usam seus 15 carrinhos para trabalhar. Pai de 4 filhas, perdeu tudo com as enchentes.
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Foto: Alass Derivas (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).
“Meu nome é Ismael, moro na Vila dos Papeleiros, loteamento Vila Terezinha, desde 1998. Fui carrinheiro com muito orgulho e até hoje trabalho com reciclagem. Com meu trabalho e esforço hoje tenho 15 carrinhos que ajudo as pessoas que trabalham com carrinhos e consegui meu próprio depósito. Mando ver. Meu trabalho é reciclagem. tenho 4 filhas, 1 esposa linda, e estamos aí na vida, vamos trabalhando”.
Há quanto tempo mora aqui?
Fazem 26 anos, vão fazer 27 anos em outubro. Sempre trabalhei com reciclagem. Assim construí minha vida, minha família, com reciclagem.
O que mudou de carrinheiro para ter o próprio galpão?
Não mudou nada. Sigo sendo reciclador. Consegui com meu trabalho um veículo, uma kombi, mas continuo sendo reciclador, ganho um pouquinho mais. Agora é seguir trabalhando e ir adquirindo o que perdi na enchente.
Como foi a enchente?
Foi terrível. A água chegou a 2 metros de altura. Perdi tudo embaixo e agora estamos tentando reconstruir. Nos primeiros três dias de enchente, o pessoal daqui mesmo começou a se ajudar. Eu mesmo fiquei aqui três dias ajudando a tirar pessoas com um bag de pet. Fizemos a bag com balsa, colocava a pessoa em cima e levava até algum lugar seco.
Foto: Alass Derivas (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).
Tinha governo ajudando?
No primeiro dia teve dois ou três barcos dos bombeiros civis, mas eles só pegaram umas pessoas e sumiram. Quem mais ajudou mesmo foi a própria comunidade, senão ia ser mais feia a coisa. Graças a Deus conseguimos tirar as pessoas, levar para os abrigos e não morreu ninguém dos nossos.
Você saiu de casa?
Sim, fui obrigado. Com duas crianças pequenas, a primeira coisa foi tirar elas. Levamos para a casa de um amigo na Rubem Berta. Fomos tratados super bem. Com uma filha autista é complicado o abrigo, não me convinha. Ficava meio complicado ir para o abrigo. Mas nada melhor que uma casinha da gente. Nossas coisas que molharam em casa jogamos aqui tudo [na rua]. A altura chegou até essa altura aqui [altura do ombro]. Tá até a marca ali ó. Essa aqui é minha casa, a água veio até aqui. Nós demos uma lavada. Aqui a marca. Perdemos tudo. Ainda não nos organizamos. O Seu Antônio é o presidente da Vila, mas tem Arevipa, que é na Paraíba, que não tem como entrar ainda. Alguns não voltaram, mas a maioria voltou, são suas casas.
Os carrinheiros voltaram?
Pergunta difícil. Na verdade eles estão por aí. Devem estar cuidando de suas famílias, trabalhando. Eu não consegui reabrir, então eles estão livres para fazer a parte deles. O que eu puder fazer para ajudar eu vou fazer e vamos seguir.
Não abriu?
Não, tá fechado ainda. Só consegui limpar. Tem muita coisa para arrumar em casa, móveis, para minha família ficar mais aconchegada. Essa é minha kombi, veio de água até por aqui. Aí não tem como. Eu dei uma lavada, agora tenho que correr atrás para arrumar ela. Não tem como. Ficou mais de 15 dias embaixo d’água. Pra depois mandar arrumar ela, e é isso.
Foto: Alass Derivas (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).
Como tá vivendo?
Faz um mês que estou nas economias, agora vou ter que dar um jeito de trabalhar já que as economias estão acabando.
Você foi procurado por governo?
Não, os auxílios que estamos esperando são do governo mesmo. Mas não entrou ainda. O do governo federal e os 2500 do cidadão que ainda não entrou. Se entrar é uma boa ajuda, já dá pra comprar alguma coisa.
Foto: Alass Derivas (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).
Campanha de Solidariedade aos catadores do Rio Grande do Sul
Renda emergencial para os catadores e catadoras afetados pelas enchentes na região metropolitana de Porto Alegre e Vale do Sinos. Acesse a benfeitoria, onde está detalhado nosso plano de ação, que visa ajuda emergencial em duas etapas: https://benfeitoria.com/projeto/solidariedadeaoscatadoresdors
Esta iniciativa convoca a sociedade civil, empresas e o poder público a somarem esforços numa grande Campanha de Solidariedade aos Catadores e Catadoras do Rio Grande do Sul, promovida por uma Rede Colaborativa que está aberta para adesões. Os valores arrecadados serão destinados para as catadoras e catadores que estão sendo mapeadas pelas organizações.
Participam: Associação Nacional dos catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT), Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), União Nacional de Catadores e Catadoras de Material Recicláveis (Unicatadores), International Alliance of Waste Pickers/ Aliança Internacional de Catadores (IAWP), Pimp My Carroça, Frente parlamentar dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (FRECATA), Observatório da Reciclagem Inclusiva e Solidária (ORIS), Aliança Resíduo Zero Brasil (ARZB), Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias), Fundação Avina e Oceana Brasil.