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Catadoras lançam manifesto por reconhecimento e justiça climática

Projeto Catadoras Empoderadas, do Pimp My Carroça, marca a mobilização de mulheres catadoras por melhores condições de trabalho diante das mudanças climáticas


Mulheres catadoras da Grande São Paulo se uniram para lançar um manifesto exigindo reconhecimento e melhores condições de trabalho e renda em um contexto de emergência climática. A iniciativa, promovida pelo Pimp My Carroça com apoio de emenda parlamentar da deputada federal Sâmia Bomfim, tem fortalecido lideranças femininas catadoras a se empoderarem no tema das mudanças climáticas para se tornarem líderes também nesse assunto.

O projeto Catadoras Empoderadas é uma formação que envolve quatro trilhas: Emergência Climática; Incidência política Advocacy; Comunicação e Inovação Social; Plano de trabalho e Ação de Campo. Ao longo dos encontros, 15 catadoras compartilharam os principais desafios associados às mudanças climáticas que impactam suas vidas e foram desafiadas a imaginar soluções e ações concretas para transformar suas realidades.  

Manifesto das Catadoras pelo Clima
Nós, mulheres catadoras de materiais recicláveis, somos diversas, somos carroceiras, autônomas, associadas, cooperadas, artivistas ambientais, cat(a)tivistas, somos trabalhadoras essenciais para a sociedade e para o meio ambiente. Com nossas mãos, transformamos resíduos em recursos, evitando que toneladas de materiais sejam descartadas em aterros sanitários ou na natureza. Ainda assim, seguimos invisibilizadas, enfrentando preconceito e lutando por reconhecimento e condições dignas para exercer nossa profissão.

Enfrentamos muitas jornadas: o trabalho na catação, o cuidado com a casa e a família, e a luta por nossos direitos. Somos mulheres que carregam o peso da exclusão social, mas também a força da resistência. Muitas de nós sofrem agressões raciais e violência de gênero mesmo ao exercer um trabalho fundamental para o planeta.

Mesmo com esses desafios, muitas de nós escolhemos ser catadoras dentre outras opções e temos orgulho do que fazemos. Seguimos organizadas para nos capacitar, profissionalizar, conquistar melhores condições de trabalho e garantir respeito para todas as catadoras, sejam elas autônomas, vinculadas a cooperativas ou associações.

Atualmente vivemos um momento crucial, onde a emergência climática nos chama à ação. Em meio às discussões sobre energias renováveis e grandes acordos sobre o clima, diversas vezes não há a inclusão de catadoras e catadores nos debates.

As mudanças climáticas agravam ainda mais nossas condições de vida e trabalho. Ondas de calor extremo tornam nossa jornada desafiadora sob o sol escaldante, enquanto chuvas intensas dificultam a coleta e comprometem nossa renda. Para as catadoras e catadores autônomos, a falta de espaços adequados para descanso, higiene e armazenamento dos materiais significa, coletar menos, trabalhar menos e, consequentemente, ganhar menos.

Sofremos racismo ambiental e injustiça climática porque moramos em regiões de maior vulnerabilidade aos riscos ambientais e trabalhamos muitas vezes expostas a precárias condições de trabalho, sem acesso a políticas públicas que nos protejam ou amparem nossos direitos. No entanto, seguimos firmes, resistindo, buscando e construindo alternativas.

Somos um dos grupos mais vulneráveis à crise climática, mas, ao mesmo tempo, um dos que mais contribuem para a mitigação. Quando coletamos, separamos e destinamos os materiais para a reciclagem, contribuímos para a e redução das emissões de gases de efeito estufa, como o metano e dióxido de carbono, uns dos maiores vilões do aquecimento global. Cada lata, garrafa, papel, tecido, orgânico que uma catadora ou catador retira das ruas e encaminha para a reciclagem é um passo concreto para reduzir a pressão sobre nossos recursos naturais e diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Nós transformamos o que seria problema em solução, poupando através de nossos corpos e trabalho a energia que seria utilizada na produção de novos materiais.

Por isso, queremos ser reconhecidas não apenas como trabalhadoras, mas como agentes da justiça ambiental e climática. Exigimos que nossas vozes sejam ouvidas nas decisões sobre o clima, pois somos parte da solução. Reivindicamos a remuneração pelo serviço que prestamos aos municípios, inclusive para as catadoras e catadores autônomos, esse é o primeiro passo para garantir a nossa valorização.

Além disso, é fundamental que as políticas de adaptação e enfrentamento climático considerem as catadoras e catadores. Precisamos de infraestrutura adequada para nos protegermos dos eventos climáticos extremos, acesso a tecnologias e financiamentos que melhorem nosso trabalho, por essa razão é necessária a nossa inclusão em planos de ação climática e a concretização de ações que nos protejam.

A adaptação climática deve garantir condições dignas para que possamos continuar nossa atividade sem que nossa saúde e segurança sejam comprometidas. Não podemos mais ser ignoradas nas discussões sobre políticas públicas e medidas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.

Por isso, afirmamos: é urgente considerar as catadoras e catadores de materiais recicláveis nas políticas climáticas! Queremos melhores condições de trabalho, proteção social, acesso à infraestrutura adequada, respeito pela nossa contribuição ambiental e garantia de nossos direitos. Seguiremos unidas, lutando por reconhecimento, por justiça e por um futuro onde possamos continuar nosso trabalho com dignidade e segurança. Pelo clima, pela vida, pela reciclagem e por todas e todos nós!

Ana Paula Lima Vidal, Ana Tercia Julio, Cintia Oliveira Silva, Cristina Aurélio, Eunice F. A. Pereira, Gislaine Inacio Maciel, Ivani Aparecida, Katia Maria Cornélio, Maria Divina Freitas, Maria Aparecida Rodrigues, Nanci Darcollétte, Olinda Pedro da Silva, Rozenir Rodrigues Souza, Samantha Suely Alves, Silvana Oliveira da Silva, Simone Rodrigues de Sena.

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