Catadoras e catadores na reconstrução de cidades do RS
Produção de mural artístico | Fotos: Coletivo Catarse | Pimp Nossa Cooperativa UTR Anitas | Porto Alegre (RS) | Maio de 2022. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/pimpmycarroca/52132587355/in/album-72177720299641958/
Principais agentes de mitigação e adaptação climática, a categoria corre o risco de ser excluída no planejamento urbano de todo um estado. Participação plena garantirá um futuro sustentável não apenas para o Rio Grande do Sul, mas uma referência para todo o país
Bilhões de reais estão sendo movimentados para a reconstrução do estado do Rio Grande do Sul, devastado por enchentes decorrentes de mais um evento climático extremo e um planejamento urbano que não é adaptado para a emergência climática em que vivemos há décadas. O negacionismo custará cada vez mais vidas. Ouvir catadoras e catadores faz parte da solução para um presente melhor e um futuro sustentável.
Catadoras e catadores são representantes da justiça climática em toda sua trajetória como profissionais e seres humanos. Mesmo afetados pela desigualdade social, a exclusão do Estado e a escravização moderna pelo mercado, milhares de trabalhadoras e trabalhadores garantem que o país recicle 90% do pouco que consegue mesmo sem serem remunerados de forma justa ou reconhecidos com a dignidade que possuem.
São necessários bilhões de reais para reparar todos os danos causados para essas pessoas, em sua maioria pobres, pretas e mulheres, ao longo de sua trajetória. A indústria da reciclagem fica com 75% do valor que movimenta no Brasil, sobrando menos de 15% para as mais de 800 mil pessoas que reciclam com suas próprias mãos. As cidades se mantêm limpas às custas do trabalho de uma massa de trabalhadoras e trabalhadores invisibilizados.
Diversos incentivos estão sendo discutidos e aprovados para ajudar a salvar as contas do estado do Rio Grande do Sul e de seus municípios. Mas, mais do que governos, são as pessoas, a sociedade civil, que precisa estar no centro das decisões sobre como esses recursos serão investidos - o risco de todo o poder ficar concentrado no legislativo e executivo é o aumento das desigualdades e precedentes perigosos de especulação financeira e política a partir de eventos climáticos extremos.
Catadoras e catadores são educadores ambientais, especialistas em gestão de resíduos, sólidos urbanos, recicláveis, compostáveis, são empreendedoras e empreendedores, lideranças comunitárias, urbanistas, representantes políticos, economistas, advogadas, professores. Essas são trabalhadoras e trabalhadores que têm os conhecimentos necessários para desenvolvermos as cidades que precisamos e as sociedades que queremos ser.
Quem serão as pessoas contratadas para o planejamento e a reconstrução das cidades? Quais serão as empresas de saneamento básico e gestão ambiental que irão receber investimentos nos sistemas de coleta seletiva? Qual o papel das cooperativas e unidades de triagem nesse momento? Como as catadoras e catadores poderão cumprir seu ofício como garante a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) nesta transição?
Diante de um momento em que toda a nação olha para a governança relacionada ao clima, o Pimp My Carroça e o Cataki reforçam que as catadoras e os catadores devem ter o protagonismo nas dicussões para novos modelos de produção e consumo sustentável, além do desenvolvimento de cidades resilientes e de uma transição justa para a economia verde e circular. Políticas públicas climáticas que não incluem catadoras e catadores estão fadadas ao fracasso.
Renda emergencial para os catadores e catadoras afetados pelas enchentes na região metropolitana de Porto Alegre e Vale do Sinos | Acesse a campanha na Benfeitoria: https://benfeitoria.com/projeto/solidariedadeaoscatadoresdors