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Por que os catadores não são remunerados?

Apesar de cumprirem um serviço essencial para as cidades, as pessoas e o planeta, catadoras e catadores não recebem nenhuma remuneração além da venda dos materiais

Já imaginou você usar um serviço de transporte particular e o motorista só receber pela gasolina que foi consumida? Isso é basicamente o que acontece com as catadoras e os catadores. 

Apesar de acordarem cedo, irem trabalhar, fazerem a limpeza das ruas, a triagem dos resíduos, seu condicionamento e comercialização, o único dinheiro que vem para esses profissionais - autônomos ou cooperados - é através da venda dos materiais.

Existe um vazio, resquício de uma cultura escravocrata do Brasil, que afasta as catadoras e os catadores de um pagamento mínimo pelo trabalho que exercem. Não tem salário se não tem venda de material, imagina uma coisa dessas.

A catação é reconhecida dentro da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), mas não é regulamentada e nem possui uma estrutura pública para encontrar formas de pagar as mais de 800 mil pessoas que trabalham com isso no país.

Além do pagamento mínimo, que seria o salário por ser catador, esses profissionais também deveriam receber o pagamento pelo serviço ambiental prestado (PSA), afinal, são essas as pessoas que estão, há décadas, mitigando a emergência climática.

Catadoras e catadores tampouco têm apoio para formalizar seu trabalho, tornar-se microempreendedores ou abrir empresas. Acessar créditos de logística reversa, que poderia ajudar muito a renda dessas pessoas, é algo muito distante.

Voltando a tradição escravocrata do Brasil: catadores e catadoras não são remunerados e nem incluídos na economia formal pois os empresários que comandam a cadeia da reciclagem e influenciam governos não querem repartir o bolo.

O racismo faz com que essas trabalhadoras e trabalhadores continuem sendo segregados, deixados à margem da economia que eles mesmo movimentam. Apesar de coletarem 90% de tudo que é reciclado, menos da metade do valor volta pra categoria - mais da metade fica com os atravessadores.

Catadores não são remunerados porque o poder público não cumpre o seu papel e segue abaixando a cabeça para conglomerados de empresas que não cumprem a logística reversa, extraem nossas matérias-primas e aumentam a desigualdade social.

Em São Paulo, a prefeitura escolhe direcionar mais de 2 bilhões por ano para realizar uma coleta que não reaproveita nem 1% do que pega e aterra 99% dos resíduos. Pagamos para aterrar, não para reciclar. Pagamos para emitir gases de efeito estufa, não para promover a economia circular.

O dinheiro da população vai para o bolso de meia dúzia de empresários quando poderia estar contribuindo para a promoção do trabalho decente, a redução das desigualdades sociais, mitigando a emergência climática e promovendo uma transição ecológica justa.

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