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“Somos mulheres de luta, vamos reerguer tudo”: A resistência das catadoras da UT Anitas

O Pimp My Carroça convocou parceiros da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para registrar o perfil de catadoras e catadores atingidos pelas inundações na capital gaúcha. Com as presenças e registros de Negra Jaque, DKG e Alass Derivas, essas pessoas contaram suas histórias e compartilharam suas sensações e perspectivas deste momento histórico na luta pela justiça climática numa das principais cidades do país.

Duas dessas pessoas são Marines e Daniele, lideranças da Unidade de Triagem Anitas, na Rua Voluntários da Pátria, bairro Floresta, que ficou totalmente submersa durante as inundações. A Anitas já participou de uma edição do Pimp Nossa Cooperativa, em 2022, quando artistas deixaram o espaço das catadoras e catadores mais bonitos com graffitis que valorizam o trabalho desses profissionais e o seu vínculo com a defesa do meio ambiente.

Foto: Alass Derivas (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).

“Tudo ajuda. Afeto, companheirismo, união. Todos juntos. Peço isso, força. Que as pessoas pensem mais nos outros, não apenas em si mesmas. Juntos somos mais fortes”, diz Daniele Silva, conhecida como Dani.

Você mora por aqui? Onde está agora?

Mari: Moro na vila, perto da Arena do Grêmio. Tive que sair, perdi tudo, a água chegou no telhado. Fui para a casa da avó da minha filha em Cachoeirinha. Voltei na quinta-feira, mas a água ainda não tinha baixado totalmente. Limpei tudo no sábado, mas ainda há muito a fazer, como a geladeira e o fogão. Perdi sofá, estante, cama, colchão. Estamos separando as roupas que ainda podem ser usadas. Nunca vi algo assim em 46 anos que moro aqui. A água subiu até o teto desta vez, foi terrível.

Há quanto tempo trabalha aqui?

Mari: Sou fundadora, já são 10 anos.

Quantas famílias trabalham aqui?

Mari: Atualmente, 16 famílias.

Qual foi a última vez que viu o local?

Mari: Um rapaz daqui veio de caiaque. Pedi que resgatasse minha cachorra, mas ela sumiu. Tudo estava submerso, foi horrível.

A maioria mora no Humaitá? Precisaram sair de casa?

Mari: Todos precisaram. Alguns ainda estão em abrigos, outros perderam suas casas completamente.

Dani: Muitas casas de madeira se desmancharam. Ana Paula, Andreia e seus maridos perderam tudo.

Dani: A água chegou à altura do portão de ferro. Tínhamos um grafite lindo ali. Outro na porta, maravilhoso.

E como está esse pessoal?

Dani: Sem trabalho, sem renda, sem casa, sem nada.

Foram procurados?

Dani: Apenas pelos abrigos, que oferecem comida, higiene, cobertores.

Foto: Alass Derivas (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).

Essas pessoas têm esperança de voltar para casa?

Mari: Alguns estão voltando. Recebemos cobertores e colchões dos abrigos. Há doações de comida pronta, água mineral, produtos de higiene. Estamos sobrevivendo assim. Ainda não tenho fogão porque o gás não voltou. Estou na fila para a ligação. A água está subindo de novo onde moro, é o ponto mais baixo.

Dani: Ela estava brava comigo, queria que eu saísse. Fiquei em casa, mas a água subiu. Fui para um prédio no Humaitá, a água subiu também. Fui para um abrigo no Colégio Mesquita e depois para uma casa sem nada. Ainda estou limpando minha casa. Olhei para minha televisão caída, entrei em choque. Choro porque estamos sofrendo, sofro por todos os nossos associados. Chegamos ao nosso limite.

Foto: Alass Derivas (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).

Como se sentem ao voltar ao galpão?

Mari: Estou mais calma agora. Espero que as pessoas se organizem esta semana. Segunda-feira, estaremos de volta com força total. Temos recursos das enchentes do ano passado para reformar. Precisamos recomeçar.

Dani: Vamos voltar com força total, somos mulheres de luta. Vamos reconstruir tudo, males vêm para o bem. Anitas estará aqui, para todas as cooperativas. Força, vamos vencer essa luta.

O que acham necessário para voltar a funcionar?

Mari: Máquinas são essenciais. O material não vale nada sem prensar. Precisamos consertar a balança também. Precisamos consertar tudo. O elevador também. Máquina de lavar, geladeira. Alguns itens podem ser recuperados.

Dani: Gastamos muito com essa prensa. Todos querem voltar, mas devemos ser humanitários. Não podemos pressionar as pessoas.

Mari: O governo quer que trabalhemos. Pedimos limpeza, mas eles priorizam ruas e casas. Além disso, não ofereceram ajuda.

O governo não veio procurar?

Mari: O DMLU perguntou se havia alguém aqui. Dissemos que não, mas que estamos disponíveis para recebê-los. Eles não vieram.

Foto: Alass Deriva (@derivajornalismo / @pimpmycarroca).

Campanha de Solidariedade aos catadores do Rio Grande do Sul

Renda emergencial para os catadores e catadoras afetados pelas enchentes na região metropolitana de Porto Alegre e Vale do Sinos. Acesse a benfeitoria, onde está detalhado nosso  plano de ação, que visa ajuda emergencial em duas etapas: https://benfeitoria.com/projeto/solidariedadeaoscatadoresdors 

Esta iniciativa convoca a sociedade civil, empresas e o poder público a somarem esforços numa grande Campanha de Solidariedade aos Catadores e Catadoras do Rio Grande do Sul, promovida por uma Rede Colaborativa que está aberta para adesões. Os valores arrecadados serão destinados para as catadoras e catadores que estão sendo mapeadas pelas organizações.

Participam: Associação Nacional dos catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT), Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), União Nacional de Catadores e Catadoras de Material Recicláveis (Unicatadores), International Alliance of Waste Pickers/ Aliança Internacional de Catadores (IAWP), Pimp My Carroça, Frente parlamentar dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (FRECATA), Observatório da Reciclagem Inclusiva e Solidária (ORIS), Aliança Resíduo Zero Brasil (ARZB), Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias), Fundação Avina e Oceana Brasil.

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