Catadoras e catadores, construtores do futuro

Foto: Júlia Nagle | @ju.nagle / @catakiapp
Desde 1992, quando onze catadores foram assassinados na Colômbia para alimentar a máfia do tráfico de órgãos, o Dia Internacional dos Catadores marca uma data de denúncia, protesto e de luta pela visibilidade desses trabalhadores. Mas desde muito antes da tragédia, sabe-se que o meio ambiente – urbano e rural – e a sociedade devem muito à presença de catadores, sobretudo em países em desenvolvimento.
Seja nas cooperativas, nas ruas ou até mesmo nos lixões, são catadoras e catadores que reciclam mais de 90% de todos os resíduos recicláveis gerados no Brasil (IPEA, 2013) – cuja reintrodução na cadeia produtiva é, hoje, mais do que uma necessidade econômica, uma ordem para uma possível recuperação ambiental do planeta.
Com seu trabalho, catadoras e catadores evitam a retirada e o consumo de proporções gigantescas de recursos finitos como água, diversos minérios, petróleo e energia elétrica. Nas cidades, a incipiente e deficitária coleta seletiva e zeladoria não conseguem limpar e recolher todos os resíduos pós-consumo, e o trabalho dos catadores se encarrega de neutralizar os danos causados por um modelo predatório e irresponsável de economia linear.
Muito embora em teoria seja possível imaginar cidades sem catadores, para chegar até lá os catadores são essenciais. O trabalho da catação nunca será dispensável, assim como um professor precisa, constantemente, se dedicar a modificar o estado de ignorância.
Engana-se quem pensa que seu papel se resume a mitigar: seu próprio fazer tem um caráter educativo e revolucionário, pois são os catadores que realizam, com excelência, a identificação do que é ou não reciclável, das dificuldades e possibilidades de reciclagem e, com isso, trazem à luz informações que o mercado e a sociedade de consumo não querem esclarecer. Eles nos mostram quão insustentável é nosso modo de produção e consumo, o quão pouco sabemos e praticamos sobre um modo alternativo de desenvolvimento.
A catadora não enterra, não esconde, não mistura, não condena. Ela alerta, separa, revela, reaproveita e humaniza. Ela nos mostra o presente, mas também aponta para o futuro. Nasce da desigualdade social e econômica, mas nos ensina a todo momento .
Catadoras e catadores nos mostram todos os dias o quanto devemos valorizar mais a natureza e seus recursos e o quanto devemos compreender a importância do trabalho humano, por mais simples que pareça. Um futuro com catadores é mais consciente, mais humano e mais solidário.
Por Carlos Thadeu C. de Oliveira, coordenador de Incidência Política do Movimento de Pimpadores (Pimp My Carroça e Cataki), que apoia catadoras e catadores de materiais recicláveis